Num contexto de grande instabilidade política, militar e social, o golpe de 25 de novembro continua a ser um dos episódios mais polémicos do processo revolucionário português. Porém, constitui, sem dúvida, um momento de viragem no processo de democratização pós 25 de Abril. Após a revolução, sucederam-se os golpes e contragolpes, como o 28 de setembro de 1974 e o 11 de Março de 1975, havendo várias forças políticas, movimentos sindicais e militares, em disputa pelo controle do país. Greves, ocupações, confrontos relacionados com a liberdade de imprensa, invasões às sedes do PCP e de partidos de extrema-esquerda culminaram, em novembro, num acontecimento que acendeu a revolta que esteve na origem da tentativa de golpe militar de 25 de novembro. A escolha de Vasco Lourenço, do Grupo dos Nove, os moderados, para comandante da Região Militar de Lisboa, em substituição de Otelo, que os revolucionários viam como um chefe para a revolução socialista, provocou a saída dos paraquedistas em defesa de Otelo e em defesa do processo revolucionário que estava em curso (PREC), juntamente com unidades do COPCON (Comando Operacional do Continente). Numa operação “relâmpago”, os paraquedistas da Base-Escola ocuparam as bases aéreas de Tancos, Monte Real e Montijo e o Estado-Maior da Força Aérea. Outras forças armadas aderiram à revolta, ocupando pontos estratégicos como os acessos à autoestrada do Norte e ao Aeroporto da Portela e os estúdios da Rádio e Televisão de Portugal. O Presidente da República, Costa Gomes, após um longo processo de negociações, decretou o estado de sítio (medida extrema que pode acarretar restrições às liberdades individuais) na Região Militar de Lisboa e deu luz verde aos moderados para avançarem. A ofensiva dos moderados (contragolpe) fez-se a partir do posto operacional da Amadora, liderada por Ramalho Eanes. De um lado, estava a esquerda militar, adeptos da "via revolucionária". Do outro, estavam os "moderados", defensores da via eleitoral. Registaram-se longas horas de luta estratégica no terreno entre estas duas fações. A posição dos sublevados foi caindo. O Conselho da Revolução decidiu a dissolução do COPCON, exigindo a apresentação de todos os seus comandantes em Belém. Apesar da rendição da Polícia Militar, morreram três militares e o Comando, Campos Andrada, Cuco Rosa e Mário Tomé, recebeu ordem de prisão. Só no dia 28 é que a situação se normalizou depois de dezenas de oficiais presos. Este golpe, que, por pouco, não colocava o país numa guerra civil, acabou por fracassar. Reduziu o poder da esquerda revolucionária e abriu o caminho para a implantação de uma democracia liberal. “Memórias do 25 de Novembro de 1975” Novembro 25.11.1975 saber mais… 35
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